Harmonização com gosto afeto, com gosto de comida de mãe » Aline OliveiraAline Oliveira Harmonização com gosto afeto, com gosto de comida de mãe » Aline Oliveira
Por Aline Oliveira

Harmonização com gosto afeto, com gosto de comida de mãe


Nem todo mundo tem intimidade com a culinária, mas eu tenho certeza que todo mundo já tentou ao menos uma vez testar uma receita — seja por falta de opção ou pra deixar o dia de alguém mais feliz.

Temos memórias olfativas-afetivas que nos levam ao passado de todas as maneiras. É o perfume dos filhos quando bebês, o cheiro da avó, o aroma de um vinho que marcou muito; tem também o aroma do vinho que nos faz voltar ao passado e, inclusive, o cheiro da comida da mãe e daquela tia que faz um bolinho de cenoura que é único.

Sempre que ministro um curso, na hora da degustação em que é para sentir os aromas na taça, a maioria têm dificuldades. E quando eu digo que buscar as memórias olfativas – sempre ajudam -, vem os aromas frutados dos pés de fruta que subiam quando criança, de uma viagem que fizeram, do dia em que estava chovendo e a grama cheirou forte. Enfim, àqueles bons momentos vividos.

A memória olfativa é construída, e se torna afetiva, com o tempo, por associar uma lembrança, um momento, à alguém.

Mas voltando para àquelas receitas que nos fazem – ou farão – nos aventurar na cozinha, a harmonização de hoje é o clássico Galinha ao Molho Pardo

O prato tem estrutura e corpo elevados, com bastante cremosidade, e é aí aonde entra um vinho que tenha corpo equivalente ao prato. Um vinho que tenha bastante estrutura.

A comida e o vinho são, e sempre serão, excelentes acompanhantes de celebrações e abraços afetivos. Por isso, hoje eu busquei a receita de um prato afetivo de Dona Luzia, minha sogra, que a fez viajar no tempo e lembrar de alguns cheiros gastronômicos que fizeram parte da infância dela, como o arroz com torresmo, chuchu bem temperadinho com noz moscada e cominho, que são pratos da infância feitos, muitas vezes, por sua avó, carinhosamente chamada de Dinha, e o sarapatel e as sopas sempre muito fartas de carne vermelha e legumes feitos pela sua mãe Valda — pratos que eram compartilhados para toda a vizinhança.

Mas um prato em especial marcavam os almoços de domingo, e que quando feitos eram sempre com muita fartura para a família numerosa: galinha ao molho pardo acompanhado de arroz branco.

O prato

Há controvérsias em relação à sua origem, franceses, portugueses e brasileiros reivindicam a criação do prato.

Para os franceses, Galinha ao molho pardo era chamado de Pouplet en Barbouille, que era um clássico no século 18. Já em Portugal, o prato é chamado de Cabidela.

Aqui no Brasil, fato é que o prato esteve presente em muitas casas nos almoços de domingo e se fazendo presente em muitas memórias olfativas, especialmente em Minas Gerais, região aonde o prato é mais comum.

A Harmonização

A Galinha ao Molho Pardo tem bastante corpo e estrutura, e um vinho leve com certeza não harmonizaria porque não haveria equilíbrio entre os elementos, como um Gamay, por exemplo.

Seguindo a regra geral de harmonização de que o prato e o vinho do mesmo país ou região se harmonizam e, levando em consideração que temos aqui uma disputada de quem criou essa delícia de prato, vamos fazer assim: escolha o país que mais lhe agrada o vinho.

Se você é apaixonado pelos vinhos português , minha indicação de acompanhamento seria vinho das uvas Aragonês ou Trincadeira, que são uvas regionais alentejanas.

Agora se você faz parte dos que defendem a origem francesa do prato, um vinho de Bordeaux barricado seria o ideal. Pode apostar é será também uma boa escolha.

Pra quem não abre mão do vinho nacional, te indicaria o que tem de melhor na produção brasileira de vinhos: os espumantes! O espumante Nature da Alma Única

“Ahh mas eu amo um Malbec”, então abra um exemplar argentino da uva. Além da facilidade de encontrar, o terroir argentino confere à uva características tânicas, textura aveludada e uma alta carga de frutas negras.

A Receita

Galinha no molho pardo tradicional

Ingredientes

1 frango inteiro;
300 g de alho;
4 cebolas;
2 colheres de sal;
Folha de louro à gosto;
50 g de orégano;
1 litro de óleo;
1 copo de sangue.

Preparo

O frango precisa ser abatido na hora e o sangue deve ser colhido da ave abatida.

Sangue

Para preparar o sangue, assim que ele for coletado e colocado em uma vasilha, acrescente meio copo de vinagre e meio de água e misture para ele não talhar. Depois cozinhe o sangue por cerca de 20 a 30 minutos. Após cozinhar, bata no liquidificador com três colheres de farinha.

Tempero

Bata no liquidificador as 4 cebolas picadas, um copo de água, os dentes de alho, orégano, 10 folhas de louro, cerca de 10 pimentas malaguetas e 2 colheres pequenas de sal.

Frango

Coloque o frango cortado em pedaços e sem pele na panela, antes do óleo. Depois despeje um litro de óleo e frite. Coloque duas colheres de tempero após um tempo de fritura. Deixe cozinhar com a panela aberta por cerca de 40 minutos até o frango dourar.

Escorra o óleo. Adicione um litro e meio de água morna na panela, volte o frango e leve ao fogo novamente. Essa água vai ser usada no preparo do molho pardo. Depois de 10 minutos escorra o caldo e reserve.

Leve o caldo para o fogo, ele precisa ter ficado moreninho. Adicione aos poucos o sangue, até a mistura ferver. Coloque também um pouco do tempero. Misture o frango ao molho e sirva com arroz branco.


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