Você prefere rótulo ou vinho? » Aline OliveiraAline Oliveira Você prefere rótulo ou vinho? » Aline Oliveira
Por Aline Oliveira

Você prefere rótulo ou vinho?


Numa degustação as cegas, todos os vinhos são iguais até que sejam degustados. É isso. É preciso que o vinho esteja na taça, que provoque experiências olfativas, gustativas, para que ele seja avaliado, classificado conforme sua categoria.

Quem já fez um dos meus cursos aprendeu que nenhuma garrafa é igual a outra, mesmo que tenham o mesmo rótulo. Quimicamente falando, o vinho é um organismo vinho que vai evoluindo dentro da garrafa. A partir do momento que ele sai do ambiente supercontrolado da vinícola, muitos fatores podem interferir no vinho que você vai degustar – mas esse não é ponto central da nossa conversa.

Nessa minha curta vida de Sommelière e, de modo geral, profissional do vinho, já vi de tudo: vi por exemplo cliente que depois da décima garrafa começou a beber azeite e achou que o azeite tinha sido o melhor vinho da noite.

O vinho está inserido num mercado que, como qualquer outro, precisa vender a sua marca. Algumas marcas fazem isso de forma esplendorosa – e de antemão não quero dizer que quanto mais famosa a marca, melhor o vinho.

Pra completar, neste mercado do vinho, temos os concursos. Você com certeza já viu vinhos com alguns selos, pontuações dadas por conceituadas empresas que fazem essas avaliações. O problema não é o selo em si, mas o selo não lido. Assim também é o rótulo.

No mundo do vinho (e em outros mercados também é assim), o rótulo cumpre o papel de informação. Nele estão contidas informações importantes: país de origem, uvas utilizadas, graduação alcoólica.

No contra-rótulo outras tantas informações preciosas: produtor, região, no caso de espumantes o método de produção, se for importado ali também tem o importador; consta também se existe algum aditivo, a classificação do vinho (seco, meio seco e etc.) de acordo com o país que ele está sendo vendido e, em muitos exemplares, sugestões de harmonização e a temperatura ideal de serviço.

Você já tinha observado esses detalhes?

O rótulo também cumpre o papel de vender aquele produto. A cor escolhida, o tipo de letra, se tem ou não algum desenho, emblema, se é ou não em alto relevo e você vai achar incrível ao passar o dedo. Quem nunca comprou um livro pela capa que me dê uma garrafa de vinho.

Agora, tanto com os livros como com os vinhos, o que o rótulo e a capa não proporcionam é a experiência da degustação.

Alguns rótulos se fixaram tanto na cabeça dos enófilos como bons, que eles não conseguem enxergar além, descobrir novos rótulos, novos sabores e aromas. Ao consumir apenas rótulos, perdemos a essência da coisa, que é beber vinho.

Ao chegar num restaurante e o Sommelier me apresentar, dentro das características que eu pedi, um rótulo conhecido e outro desconhecido, não tenha dúvida: vou no desconhecido.

O papo aqui é experiência com o vinho. Eu já sei o que o conhecido tem a me oferecer e, vira e mexe ele aparece na minha taça. Já o novo rótulo tem algo diferente a me oferecer. Pensem comigo: se duas garrafas do mesmo rótulo são diferentes, imagine o vinho da mesma região, produzido com as mesmas uvas, só que por produtores distintos.

Se tem uma pessoa que precisa conhecer esse vinho sou eu. Se você é a pessoa que gosta de beber vinho, você também é a pessoa que precisa viver essa experiência.

Já ouviu aquela frase que diz que “o que se leva da vida são as experiências vividas”? Já pensou no juízo final e te perguntarem quais vinhos você bebeu e você dizer que só bebeu um único vinho, aquele que atravessou a fronteira? Deus me livre dessa vergonha.

Por trás de rótulos muito emblemáticos existe um mercado de milhões – que nem todos podem pagar. Por trás de vinhos emblemáticos existe uma experiência a ser vivida – que nem sempre é acessível, mas que não é impossível.

E aí, chego ao fim te fazendo a pergunta do início: você bebe vinho ou é bebedor de rótulo?


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